sábado, 31 de dezembro de 2016

Pensando Quadrinhos: Editor e Juiz de Futebol — Ofícios e Alvos



Numa partida de Futebol, o Juiz, auxiliado pelos Bandeirinhas é responsável por fazer as Regras do Jogo serem cumpridas. No mercado Editorial o Editor se encarrega de defender as regras da Editora. A moda, as tendências mercadológicas, a opinião pública, a opinião de grupos e nichos específicos, o patrulhamento do politicamente correto e os patrulhamentos ideológicos, preceitos e preconceitos estão entre os elementos aos quais o Editor precisa dar atenção antes de publicar algo. Adequar um produto a um público específico não é uma tarefa fácil, por isso editores às vezes são tão xingados quanto Juízes de Futebol.

Veja só o tipo de coisa que um editor precisa observar: O nível do texto está acessível à faixa etária? A sensualidade dos/das personagens agride ou agrada o público pretendido? O traço está em sintonia com o gênero? O discurso do texto pode gerar polêmicas desagradáveis — ou as polêmicas são pretendidas pela linha editorial? Esse produto editorial pode gerar subprodutos? É possível ir além do público alvo com pequenos ajustes de texto ou imagem? O formato gráfico está sintonia com o conteúdo? E por aí vai.

O trabalho de um Editor é regido também por prazos. Uma obra precisa estar afinada antes de ir para a gráfica, então é necessário saber quando parar de fazer ajustes e retoques. Editores de Arte, Revisores, Copydesks, leitores-beta auxiliam o Editor-Chefe em suas tarefas. Mas em muitos casos, no Brasil, o Editor ocupa todas essas funções e mais algumas. Por isso os Editores dão preferência a escritores, artistas e autores que facilitem o processo de edição.

Entre todas as tarefas do Editor, uma das mais fascinantes é a de "conseglieri". Ler o material que vai ser publicado em seus estados embrionários e servir de navegador para auxiliar o artista a dar o melhor de si e chegar ao melhor resultados que ele puder oferecer. Quando recebe obras fechadas o Editor fica impossibilitado de ajustar o curso e o destino pode ser bem diferente do pretendido.


Um bom Editor conhece acima de tudo sua Linha Editorial: o que pode ou não pode ser publicado por ele. Mas é bom lembrar que: o que é bom para uma editora pode ser ruim para outra. E o que é ruim para uma editora pode ser bom para outra. Veja: um artista de traço sensual, daqueles que desenham "mulher boazuda" pode não estar em sintonia com um Editor de quadrinhos infantis, mas isso não impede o Editor de procurar saber se tal artista possui outras facetas de traço. Ou ainda, isto não o impede de redirecioná-lo a algum outro editor que tenha sintonia com a linha de trabalho deste artista. Isto seria o ideal, embora este tipo de direcionamento possa ser melhor realizado por um Agente que por um Editor. 

Normalmente o discurso do Editor é: Nós publicamos  coisas no estilo X, Y e Z. Para se adequar ao que eu publico é preciso fazer "isto" e "isto". Por falta de tempo, tato, atenção, paciência ou outra coisa, muitas vezes o artista não entende o que está sendo dito, ou o Editor não se faz entender completamente. Em ambos os casos a busca de informações deveria ser mais importante que as certezas.

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